quinta-feira, 17 de outubro de 2013

CHEIRO DA NOSSA HISTÓRIA

Se perguntarmos às pessoas que vivem em Camaquã qual o cheiro da cidade por certo vão falar de cheiro de água na beira do Arroio, de lenha queimando em estufas de fumo durante o período de secagem, de terra, eucaliptos e acácias sentidos no verão quando se desloca para o interior desse enorme município ou para Arambaré. De macela na semana da véspera da Páscoa, nas idas à Barragem.



Se perguntarmos aos palestrantes do Seminário, como ao Diego Vivian da foto acima, que vai nos falar de saberes e fazeres que cheiro tem a História de Camaquã acho que ele vai responder que cheira a doce de figo, cravo e canela nos dias que antecedem o Natal. Se perguntarmos para a Joana que pesquisou a identidade do gaúcho dentro da literatura de Barbosa Lessa e Ricardo Guiraldes  acho que ela vai falar do suor do cavaleiro e do animal, nas longas viagens no lombo do cavalo transportando madeira, erva para Pelotas, Jaguarão e além... Penso que o Jocelito pelas suas pesquisas em história vai dizer que cheira a erva secando no monjolo e muitas coisas mais. Se me perguntarem posso responder que cheira ao perfume doce, mistura de musgo e mata nativa que se sente quando nos aproximamos do Velhaco chegando de Porto Alegre ou qualquer outra fonte de água. Lembro da minha vó discutindo esse assunto comigo e falando do cheiro do couro curtido que o meu bisavô ensinou ela a trançar para fazer artigos de selaria e dela falando do cheiro de arbustos e de terra úmida no esconderijo onde iam se abrigar as moças em caso de barulhos repentinos de visitantes, especialmente se incluíssem tropel de cavalos. 



Alguém poderá responder que cheira a suor de escravo trabalhando até a exaustão, a sangue de soldado, a lágrima da mãe saudosa encarcerada no universo restrito das lides de dentro de casa, a querosene aceso em sala de casa próspera para iluminar a noite.
Com a passagem do tempo as cidades vão incorporando modificações em suas paisagens. E os cheiros vão mudando.  Que cheiros lembrarão nossos filhos e netos? Que cheiros eles sentirão? Depende da cidade que legaremos a eles, dos saberes e fazeres que se manterão e também daqueles que desaparecerão sem deixar rastro.




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